Nesses últimos dias tenho silenciado um pouco este blog...
Venho pensando, sentindo e observando minha postura na sociedade:
No dia a dia, na faculdade, na vida profissional e espiritual, tenho me reafirmado cada vez mais como homem. E a medida que me aproximo deste universo masculino no mundo real, não só na minha mente, percebo que a auto afirmação como homem, sendo um homem transexual, difere em alguns pontos da auto afirmação de um homem biológico. Eles tem preocupações que alguns de nós não tem, e vice versa. Nossa masculinidade é imposta de uma forma muito particular, ainda primária talvez, que vai desde o surgimento dos primeiros pêlos faciais, a voz grossa... readequar nossa aparência como um homem se torna quase uma fixação, eu penso nas sobrancelhas, nos cílios, nas mãos, nos pés, na textura da pele... acho que alguém vai olhar esses detalhes e dizer que sou diferente... às vezes me sinto como se fosse um criminoso se escondendo de alguém que reconhecesse sua foto nos “procurados”.
Quanto a sentir na pele o papel social de um homem e desempenhá-lo, não é um problema, é uma satisfação e realização. Porém venho desconstruindo e reconstruindo minha auto imagem masculina. Sim, porque antes, eu me sentia homem, meu corpo estava errado, mas isso não fazia de mim um homem diferente dos outros. Hoje, analisando e sentindo sem os anteriores preconceitos machistas que me atordoavam a mente, entendo de forma clara e bem resolvida, que por mais que eu seja um homem que pensa e vive como um, eu não sou exatamente como os outros homens biológicos. Existe algo que me difere, sinceramente sinto até que me torna especial, sim, eu sou um homem, mas eu sou um homem transexual!
Admitir essa realidade não é tarefa fácil, é preciso estar muito seguro de si. Pode parecer óbvio para quem vê de fora, mas os homens transexuais talvez saibam do que estou falando.
O problema é que me assumo como homem e me escondo como homem transexual, que é o que de fato sou. Bem... aí entram meus questionamentos. As pessoas na sociedade a qual pertencemos e precisamos conviver têm uma série de pré definições à respeito da transexualidade, e convenhamos, a grande maioria não é positivo. Penso então na minha parcela de culpa nisso, eu mesmo não consigo bater no peito e assumir que sou homem sim, mas um homem transexual e que nem por isso sou menos, sou promíscuo, sou doente mental e todas as outras coisas que se pode pensar sobre nós. Estou dividindo uma sala de aula com outros futuros psicólogos, e nenhum deles sabe a minha realidade como homem transexual. Não que eu ache que devo andar com uma faixa na cabeça indicando minha transexualidade, ou que ao conhecer alguém eu deva dizer: “ Olá, meu nome é fulano, sou transexual”.
Na verdade ainda nem tenho certeza de como devo agir, mas sinto que preciso impor respeito aos homens transexuais, mostrar que a nossa existência é palpável, que somos homens sem grandes limitações, podemos ser amigos, maridos, profissionais... é o nosso direito de SER. È a minha identidade como transexual. Enquanto me escondo, tenho medo e vergonha de ser quem sou, é como se eu fosse cúmplice da mentalidade geral , cúmplice do preconceito, da falta de informação...
Um dia desses fui palestrar sobre o universo dos transexuais para um grupo LGBT de surdos aqui em Recife, eram cerca de 50 surdos, entre eles gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. Ao explicar para eles a diversidade dos reconhecimentos de gêneros senti um certo alívio, ali a grande maioria tinha conceitos errôneos sobre a transexualidade, senti que ficaram esclarecidos, e isso me gerou uma felicidade e sensação de dever cumprido. Mas ao terminar, senti que estava só começando.
Assumir minha identidade nos momentos certos, para as pessoas certas, talvez seja um grande passo para a reconstrução dos conceitos sobre os transexuais, o início da desmistificação, da imposição e do respeito.
Haverá um dia que homens se verão como iguais.Abrç!
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirSim há momentos e momentos. Maneiras e maneiras. Se não for possível falar de transexualidade, fale de sexualidade. Até mesmo psicólogos graduandos, e formados, tem receio em falar de sexualidade. Incrível? Nem tanto. "Quando falo sobre sexualidade corro o risco de expor algo sobre mim, então prefiro não falar." Ou "do outro achar que algo é sobre mim."
O importante é que de alguma forma você pode inserir algo "novo". E o ato por si só, de provocar questionamentos em algumas mentes, já é de extrema importância.
Acabei de descobrir que seremos colegas.
Abrs!
vc tbm está na psicologia Homer??
ResponderExcluiré uma delícia não é mesmo??
que bom saber disso!!
mais uma vez obrigado pelo comentário super válido e sólido!!
um abração!
Olá! Sou transexual,operada e feliz.
ResponderExcluirMás o processo começou no 97 e somente
hoje posso dizer que tudo acabou com o
meu reconhecimento juridico.
Siga em frente,tenha coragem e boa sorte.
Um beijo
Roberta
Roberta, boa tarde.
ExcluirEu acabei de postar uma msg a respeito desse assunto.
Estou precisando urgente de informações de quem fez a cirurgia de transgenitalização.
Vc poderia me responder algumas perguntas?
Obrigada.
Meu e-mail é:
macitameister@gmail.com
Eu entendo como são as pré definições que fazem de nós. A falta de informação, que prejudicou até a mim que somente agora consegui entender esse conflito entre corpo/espirito, fui denominado de doente mental, borderline, psicotico mas essa pessoa que me denominou de tantos termos morbidos se quer teve a superioridade de me deixar explicar que eu realmente era e sentia. Ainda, apesar de estarmos no século XXI, vivemos numa sociedade desinformada, ignorante e porque nao dizer meio neandethalense.
ResponderExcluirSó nao podemos abaixar a cabeça e nos esconder. temos o direito de ser quem somos como qualquer outro cidadão que paga seus impostos, como nós também pagamos.
Abraço e seu blog é muito útil.
Adorei esse seu texto!!
ResponderExcluirOlá gostaria muito de saber a respeito de quem fez a cirurgia tbm como eh no ato sexual coisa do tipo
ResponderExcluirOlá gostaria muito de saber a respeito de quem fez a cirurgia tbm como eh no ato sexual coisa do tipo
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