sábado, 14 de janeiro de 2012

AMOR E CONTRADIÇÕES...


Gente... fazia muito tempo mesmo que me mantive em silêncio, atribuo tudo isso às reviravoltas que a vida dá, de repente nos vimos na condição de viver a realidade mais do que gostaríamos de fato... sonhar é bom, é mágico, e eu sou um sonhador nato... mas nos labirintos que nós mesmos erguemos, é preciso frieza e pés no chão para encontrar saídas, ou no mínimo novos caminhos.
Por ser sonhador, sou alvo fácil das armadinhas sentimentais, estou sempre apaixonado, não necessariamente por alguém, mas também por alguma coisa... preciso sentir a paixão pulsar em mim de uma forma ou de outra, preciso amar a música, a arte, a poesia, o trabalho, o casamento, o acordar, uma série de tv... preciso estar apaixonado para viver. Mas recentemente a vida me aprontou uma daquelas que ela vez ou outra gosta de aprontar sabe? Mas é uma situação reflexiva, e me vez voltar a escrever, também me fez voltar a cantar, e tudo isso merece de mim toda atenção do mundo.
Acontece que passamos a vida tentando definir e criar rótulos pra tudo, especialmente para nós mesmos... quando era um jovem adolescente, eu costumava dizer: " sou um pouco do que sou e um pouco do que pensam que sou", e certa vez, um tio muito amigo me completou a frase dizendo: " você também é um pouco do que pensa que é..."
Hoje entendo que isso é um axioma, uma verdade absoluta, se é que verdades absolutas existem... A vida me fez entrar em contradição com o que eu pensava sobre mim mesmo.
Por tanto tempo tentando impor uma masculinidade para me sentir melhor ao olhar no espelho, para me encontrar hoje, com a outra face dos meus desejos... estou apaixonado, desta vez, por alguém que rompe todas as minhas expectativas, quebranta minhas vidraças e me deixa com os pés fora do chão... ironicamente, me faz sentir mais homem do que qualquer mulher faria ou fez até então. O amo, numa simplicidade ímpar de sentir esse amor intensamente em cada poro do meu corpo físico e espiritual. O amo porque a nossa imperfeição é a coisa mais perfeita que me aconteceu e o amo porque "para entender esse amor, seria preciso virar o mundo de cabeça pra baixo", talvez ainda assim, seja algo que só possa ser entendido entre nós dois.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

PARA EXERCER A CIDADANIA...


Minha primeira vivência social, assumindo minha identidade masculina, se deu em São Paulo, na cidade de São Sebastião, litoral norte do estado. São Paulo é o primeiro estado brasileiro a instalar na capital um ambulatório voltado para travestis e transexuais, respeitando o direito à integridade e respeito à identidade social desta população. Em São Paulo também estão organizados diversos grupos de ação em favor dos transexuais e travestis masculinos e femininas, que carregam uma bandeira paralela à luta dos homossexuais, caminhando juntos porém com interesses distintos, já que os itens de defesa dos transexuais são especialmente voltados às questões de saúde pública e privada e a políticas em defesa do nome e da identidade social de um cidadão transexual. Justamente devido essa visibilidade e à ação organizada desses grupos em conjunto com a prefeitura e o Governo do Estado, mesmo numa cidade pequena, não tive dificuldades em assumir cargos dentro do mercado de trabalho, essas ações refletem numa população mais esclarecida.

Voltando a Recife encontrei uma realidade ainda em outro extremo, onde mesmo dentro do próprio movimento social voltado às causas LGBT encontrei bloqueios, falta de esclarecimento e fracas propostas em favor dos transexuais. Para encarar o mercado de trabalho a dificuldade foi em dobro, mesmo tendo um currículo preparado, sendo bilíngüe e com aptidão em outros idiomas, estou desempregado a vários meses. Ao longo deste período participei de várias seleções em diversas alternativas no mercado de trabalho. Passei em todas, me mostrando apto em todas as fases eliminatórias. Porém, ao revelar que sou transexual e que ainda não tenho a documentação retificada, fui descartado, colocado em bancos de espera, quando eu mesmo tinha conhecimento de que a vaga era para preenchimento imediato, outras tantas e tantas vezes não recebi nem mesmo retorno das empresas. E tudo isso sabendo que eu tinha demonstrado e confirmado mais preparo do que outras pessoas selecionadas.

Refletindo friamente à respeito, não culpo as empresas em si, a falta de informação gera medo e apreensão. Nas seleções de emprego o empregador quer para incorporar em seu quadro de funcionários pessoas que além de capacitadas não tragam problemas futuros, especialmente com a justiça. Temem que eu precise me ausentar em conseqüência de mais uma cirurgia, ou mesmo a acusação de falsidade ideológica por me tratarem, inclusive em crachás e afins pelo meu nome social. Tudo isso pela invisibilidade com que é tratado o tema no ambiente público, educacional, gerando uma ausência plena de políticas públicas e legislação vigente em favor da população transexual, além da forma equivocada como é tratado e confundido com a homossexualidade. Tudo isso reflete no desencorajamento desta população para enfrentar um curso superior ou técnico, no forte receio de serem ridicularizados e o pavor de não serem tratados devidamente de acordo com a identidade e nome social, muitas vezes ocorrendo o abandono da educação já no ensino médio ou mesmo no fundamental, afinal, não é pequeno o número de travestis e transexuais analfabetos e analfabetas, já em decorrência desta falta de informação no ambiente educacional. Além do abandono da escola, é comum o abandono da família. Agora sem estrutura familiar e sem base educacional essa população, especialmente as mulheres travestis e transexuais se reúne em guetos e criam o próprio mercado de prostituição, tráfico e comércio sexual escravo para o exterior, especialmente para a Europa. È uma bola de neve, as mais veteranas “adotam” as mais novas, criando um vínculo fictício de família com a intenção real de inseri-las neste ciclo. A realidade se mostra mais cruel quando é comum o uso de drogas para camuflar a lucidez, e o trafico de drogas se mostra mais uma alternativa além da prostiuição.

E é talvez por fraqueza mas não por falta de caráter que travestis e transexuais entrar nesta roleta russa. Fraqueza por ser de fato uma classe fraca socialmente, onde poucas atenções são voltadas à esta grave problemática social. Travestis e transexuais que não se entregaram à essas alternativas são vistos e vistas como uma rara exceção.

E ainda assim precisam carregar a estigma de serem confundidas com as demais, simplesmente por serem como são.

Quando se trata da transexualidade masculina, encontramos uma outra problemática:

Felizmente, não existe este mercado para nós, homens transexuais, voltado para prostituição e toda roleta russa já mencionada, porém quando se trata das limitações para encarar um curso ou conseguir um emprego, temos as mesmas. A não ser que façamos o possível para esconder nossa realidade enquanto transexuais, não conseguimos levar uma vida dentro da normalidade e isso dificulta que exerçamos dignamente nossa cidadania, já que temos os mesmos deveres e obrigações sociais, precisamos pagar impostos, e todas as contas sem distinção. Mas poucos de nós conseguem um emprego antes de retificarem seu documentos, e depois desta rara conquista preferem apagar de vez o passado, porém, apagar o passado resulta em mais invisibilidade, em menos informação, e enquanto isso pessoas competentes como eu estão desempregadas ou se vêem obrigados a exercer funções muito abaixo de suas capacidades para simplesmente,sobreviver.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

AS BARREIRAS DO AMOR


Tudo bem...imagino que ao ler o título desta postagem vocês devam pensar: “ lá vem mais um papo de homem apaixonado, nada político...” pois sim, é de fato um texto movido pela paixão, mas é também político, crítico e questionador. Afinal, vivemos uma luta que é feita e refeita diariamente, uma luta sem armas, mas em que muitas vezes saímos feridos e ferimos também, por isso deve ser cuidadosa, deve introduzir as questões para serem refletidas. Quero falar de preconceito, não é um tema que caiu em desuso, porque quanto mais entro no universo dos que são discriminados e marginalizados, vejo que o preconceito e a discriminação não param por aí. Pra quem pensa que o grupo LGBT é um grupo que se une para combater os preconceitos externos, não imagina que dentro do próprio grupo existe uma outra gama, diga-se de passagem, muito grande, de preconceitos internos, de sub grupos que rejeitam e são rejeitados pelos demais. Mas o pior acontece, quando duas pessoas de diferentes subgrupos se apaixonam e se relacionam, pronto está comprada a guerra! Vem as críticas e as ameaças, perguntas como: “Então você não é mais isso agora você é aquilo?” na tentativa de restabelecer rótulos... Depois da identificação e da conquista da identidade, penosa e sacrificada, ainda somos capazes de quebrar edificações sólidas que nós mesmos construímos.
O transexual estabelece sua identidade como homem ou mulher, e quer ser visto e tratado como qual , mas será que é coerente um homem transexual exigir para si somente mulheres biológicas? É contraditório, é o mesmo que exigir que mulheres biológicas se apaixonem somente por homens biológicos e vice versa . Não faz sentido! Um homem e uma mulher podem se apaixonar independente da condição em que se encontram. Assim com dois homens ou duas mulheres... Então porque é tão polêmico o amor entre um homem e uma mulher ambos transexuais?
Quando se trata de identidade de gênero, não existem culpados, não existem causas generalizadas, mas deve existir o respeito por essa identidade. A minha mulher transexual não é mais nem menos mulher do que muitas que nasceram assim. E eu, não sou mais nem menos homem... somos pessoas, somos um homem e uma mulher apaixonados, doa a quem doer!

domingo, 22 de agosto de 2010

É UM PROBLEMA DE TODO MUNDO, DO MUNDO TODO!!


Uma coisa é preciso entender: não somos vítimas , somos agentes modificadores, produtos para a reflexão da espécie humana.
Somos parte da sociedade, e dela nos é cobrado todos os deveres sem distinção. Pagamos impostos e precisamos viver digna e honestamente, com o fruto do nosso trabalho, exercendo nosso papel crucial como cidadão . A população transexual no mundo não é de dezenas nem de centenas, mas de milhares e milhares de pessoas que vivem essa condição. Acredito que ninguém prefira viver na marginalização, nós consideramos árdua a caminhada para readequação do corpo físico,mas uma reflexão curiosa me fez pensar em como é vivida a transexualidade no mundo, em países de cultura rígida como o Paquistão, Afeganistão ou índia, por exemplo. A transexualidade não existe somente para países democráticos, ocientais... è um fator presente na espécie humana, onde quer que ela se apresente.
Pensei nas pessoas que nascem em tribos indígenas e sofrem com o transtorno da identidade de gênero, como se manifestam enquanto indivíduos? Percebi então que não tenho grandes problemas, pelo contrário, tenho a liberdade de solucioná-los. Vivo em um país democrático onde os transexuais têm espaço para lutar pelos seus direitos. Sou grato por isso. Não consigo imaginar o que seria acordar todos os dias sem esperança alguma de viver, somente sobrevivendo ao passar dos anos, aparentando ser constantemente algo que não sou. Isso sim seria um verdadeiro filme de horror. E são muitas as pessoas que vivem esse filme na vida real. Pensei nelas, o que eu poderia fazer, se pudesse fazer alguma coisa, se é que não posso!
As culturas sólidas devem ser respeitadas, mas a intolerância deve ser combatida. A medicina talvez seja a porta mais ampla para ingressar no entendimento de certos grupos, fazendo um trabalho sério e dedicado sobre a disforia de gênero, encarando isso como um problema social grave a ser resolvido através da ciência médica. Já que ela tem credibilidade na maioria desses países.
Enquanto na Índia as hijras lutam para serem reconhecidas como mulheres, a realidade social não esconde a marginalização e a cultura paralela que criam em seu universo particular. Muitas pedem dinheiro nos semáforos, a grande maioria se prostitui, e quase todas perderam a referência da família, foram abandonadas e são todos os dias humilhadas. Mas aprenderam a ser temidas, aproveitando-se da supertição da cultura indiana, ameaçam jogar pragas. Porém, como a maioria das civilizações, os homens ( biológicos ), sempre tiveram mais espaço e voz. Os primeiros a se manifestarem na luta pelos seus direitos foram os gays, as lésbicas, desfavorecidas pelo gênero, vieram depois com os movimentos feministas. Imaginem então, o que é viver sendo homem no corpo de uma mulher em um país de cultura Hindu ou mulçumana, onde a intolerância predomina especialmente entre as mulheres?
Não vou pôr conclusão a esta postagem, este é um assunto sério que merece ser estudado e considerado. Mas fica a reflexão, para transexuais ou não.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

UMA BREVE EXPLICAÇÃO


Fico feliz em ter leitores, pequenos em números mas maestrosos em dignidade. Quero agradecer sinceramente aos que acompanham meus escritos:os seguidores, os que comentam pessoalmente e os que comentam virtualmente. Tinha dúvidas se surgiriam pessoas interessadas em ler os relatos de um homem transexual, embora habite em mim uma enorme satisfação em escrever, ainda preciso conviver com a minha inexperiência e ignorância digital. Por elas, peço desculpas.
Mas o interesse real desta postagem, é de atender à uma necessidade que tenho sentido presente em algumas pessoas que eventualmente acompanham meu blog: a de esclarecer um pouco sobre termos específicos e sobre a própria transexualidade. Já que nem todos participam deste universo. Venho então tentar de maneira objetiva resumir um pouco sobre nós, os transexuais.


O QUE É DISFORIA DE GÊNERO OU TRANSTORNO DE IDENTIDADE DE GÊNERO???


Na wikpédia está assim: O transtorno de identidade de gênero é um transtorno de ordem psicológica e médica, que se manifesta na condição em que a pessoa é de um determinado gênero biológico (homem e mulher), mas se identifica com os indivíduos pertencente ao gênero oposto, e considera isso como desconfortante ou é incapaz de lidar com essa condição. O transtorno de identidade de gênero ou síndrome de disforia de gênero, acredita-se que não é algo que se manifesta em um deteminado momento da vida, mas que vem desde a fase pré-natal,o indivíduo não se identifica com o gênero biológico mas isso não o torna incapaz de exercer qualquer papel na sociedade e não quer dizer que tenha qualquer outro tipo de transtorno ou psicose. Os tratamentos voltados para readequar à mente ao corpo físico não obtiveram sucesso, então o único tratamento eficaz é readequar o corpo à mente, ou seja, à identidade de gênero. NÃO É OPÇÃO, NÃO É ESCOLHA, NÃO É HOMOSSEXUALIDADE POIS NÃO ESTÁ LIGADO À ORIENTAÇÃO SEXUAL E SIM À IDENTIDADE DE GÊNERO!

Um transexual pode ser HETEROSEXUAL, HOMOSSEXUAL, BISSEXUAL OU ASSEXUADO, pois sua identidade de gênero, quer dizer, a forma como ele se vê ( homem ou mulher ) é que está em questão. Não a sua orientação sexual.

O TRANSEXUAL MASCULINO: è o homem que nasceu no CORPO feminino, de uma mulher. é identificado pela sigla FTM, que em inglês quer dizer FEMALE TO MALE ( feminino para masculino )

A TRANSEXUAL FEMININA: è a mulher que nasceu no CORPO masculino, de um homem. A sigla que as identifica é MTF, MALE TO FEMALE ( masculino para feminino ).

Mesmo alguns estudiosos confundem essas denominações e chamam a nós, homens transexuais de transexuais femininas. Mas não é o caso, somos os transexuais masculinos.

Somos confundidos também com outras personargens que não possuem o transtorno de identidade de gênero, por exemplo:

TRAVESTIS:Travestis são homens e mulheres que se caracterizam do gênero oposto ao qual pertencem mas não tem nenhum problema com seu gênero biológico, não havendo assim, necessidade de intervenção cirúrgica para a readequação do sexo.

HOMOSSEXUAIS: è simplesmente uma orientação sexual, quando uma pessoa sente atração física e afetiva pelo mesmo gênero. E nada tem haver com a transexualidade. Como já foi dito, um transexual não é transexual porque é homossexual, e sim porque sua identidade de gênero difere do gênero biológico.

INTERSEXUALIDADE : São pessoas que nasceram com ambiguidade de gênero e essa ambiguidade é manifestada fisicamente. Possuem características dos dois sexos, em diversos níveis, desde uma produção hormonal diferenciada até as genitálias dos dois sexos desenvolvidas.

TRANSGÊNEROS:
Ultimamente o termo tem sido usado para pessoas que transitam entre um sexo e outro, que possuem a identidade de gênero ambígua. Mas é um termo que envolve bastante discussão.

ESPERO TER ESCLARECIDO ALGUMAS DÚVIDAS. Me coloco aberto para discutir ou reavaliar qualquer conceito e continuar esclarecendo dúbios que permaneçam existentes.

A IDENTIDADE TRANSEXUAL


Nesses últimos dias tenho silenciado um pouco este blog...
Venho pensando, sentindo e observando minha postura na sociedade:
No dia a dia, na faculdade, na vida profissional e espiritual, tenho me reafirmado cada vez mais como homem. E a medida que me aproximo deste universo masculino no mundo real, não só na minha mente, percebo que a auto afirmação como homem, sendo um homem transexual, difere em alguns pontos da auto afirmação de um homem biológico. Eles tem preocupações que alguns de nós não tem, e vice versa. Nossa masculinidade é imposta de uma forma muito particular, ainda primária talvez, que vai desde o surgimento dos primeiros pêlos faciais, a voz grossa... readequar nossa aparência como um homem se torna quase uma fixação, eu penso nas sobrancelhas, nos cílios, nas mãos, nos pés, na textura da pele... acho que alguém vai olhar esses detalhes e dizer que sou diferente... às vezes me sinto como se fosse um criminoso se escondendo de alguém que reconhecesse sua foto nos “procurados”.
Quanto a sentir na pele o papel social de um homem e desempenhá-lo, não é um problema, é uma satisfação e realização. Porém venho desconstruindo e reconstruindo minha auto imagem masculina. Sim, porque antes, eu me sentia homem, meu corpo estava errado, mas isso não fazia de mim um homem diferente dos outros. Hoje, analisando e sentindo sem os anteriores preconceitos machistas que me atordoavam a mente, entendo de forma clara e bem resolvida, que por mais que eu seja um homem que pensa e vive como um, eu não sou exatamente como os outros homens biológicos. Existe algo que me difere, sinceramente sinto até que me torna especial, sim, eu sou um homem, mas eu sou um homem transexual!
Admitir essa realidade não é tarefa fácil, é preciso estar muito seguro de si. Pode parecer óbvio para quem vê de fora, mas os homens transexuais talvez saibam do que estou falando.
O problema é que me assumo como homem e me escondo como homem transexual, que é o que de fato sou. Bem... aí entram meus questionamentos. As pessoas na sociedade a qual pertencemos e precisamos conviver têm uma série de pré definições à respeito da transexualidade, e convenhamos, a grande maioria não é positivo. Penso então na minha parcela de culpa nisso, eu mesmo não consigo bater no peito e assumir que sou homem sim, mas um homem transexual e que nem por isso sou menos, sou promíscuo, sou doente mental e todas as outras coisas que se pode pensar sobre nós. Estou dividindo uma sala de aula com outros futuros psicólogos, e nenhum deles sabe a minha realidade como homem transexual. Não que eu ache que devo andar com uma faixa na cabeça indicando minha transexualidade, ou que ao conhecer alguém eu deva dizer: “ Olá, meu nome é fulano, sou transexual”.
Na verdade ainda nem tenho certeza de como devo agir, mas sinto que preciso impor respeito aos homens transexuais, mostrar que a nossa existência é palpável, que somos homens sem grandes limitações, podemos ser amigos, maridos, profissionais... é o nosso direito de SER. È a minha identidade como transexual. Enquanto me escondo, tenho medo e vergonha de ser quem sou, é como se eu fosse cúmplice da mentalidade geral , cúmplice do preconceito, da falta de informação...
Um dia desses fui palestrar sobre o universo dos transexuais para um grupo LGBT de surdos aqui em Recife, eram cerca de 50 surdos, entre eles gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. Ao explicar para eles a diversidade dos reconhecimentos de gêneros senti um certo alívio, ali a grande maioria tinha conceitos errôneos sobre a transexualidade, senti que ficaram esclarecidos, e isso me gerou uma felicidade e sensação de dever cumprido. Mas ao terminar, senti que estava só começando.
Assumir minha identidade nos momentos certos, para as pessoas certas, talvez seja um grande passo para a reconstrução dos conceitos sobre os transexuais, o início da desmistificação, da imposição e do respeito.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

QUANDO UM HOMEM SE APAIXONA...


Palavras sinceras ecoam
como uma corrente enérgica
que percorre as veias,
tornando-se necessárias.
Os olhos permitem-se umedecer
em lágrimas de saudade...vontade...
E ele entende, que na verdade, pode chorar.
Já não tem forças pra lutar
contra uma sensibilidade
que lhe tonteia a mente
no simples olhar nos olhos dela
e se permite sonhar...
Quando um homem se apaixona,
ele pensa o quão melhor e
minimamente bom ele poderia ser
para merecê-la.
Ele não quer assustá-la,
para não afastá-la.
Mas ele mesmo, como criança,
embaralha os sentidos.
Quando um homem se apaixona,
quer criar um mundo melhor
onde tudo fosse perfeito
só pra vê-la sorrir,
esse sorriso inteiro...